Muay thai – riscos e benefícios – como
treinar.
Muay thai é uma arte marcial
originária da Tailândia, considerada desporto nacional. É conhecida como a arte
das oito armas, porque usa a combinação de punhos, cotovelos, joelhos, canelas
e pés nos combates. A palavra Muay significa “combate”, “luta”, e thai é
designativo da nacionalidade tailandesa. O Rei Tigre foi o maior lutador da
história do Muay thai. No seu reinado o Muay thai fazia parte da preparação
militar e era ensinado nas escolas. A partir de 1921 deixou de ser ensinado,
devidos às constantes lesões nos alunos. Não havia luvas nessa época, apenas
tiras de algodão, cânhamo ou crina de cavalo. Para proteger os genitais usavam
côco. Em 1920, algumas regras do boxe
inglês foram introduzidas no esporte, tais como divisão por peso, uso de luvas,
inclusão de rounds e arbitragem. Os homens tailandeses iniciam no Muay thai aos
seis anos de idade. Às mulheres, o Muay thai era proibido, porque havia o
mito de que se as mulheres entrassem no ringue dariam azar aos competidores e
aos espectadores. Atualmente mulheres competem na Tailândia, com as mesmas
regras dos homens.
No Brasil o Muay thai tornou-se
bastante conhecido e procurado pelas mulheres. No Rio Grande do Sul as mulheres
estão treinando Muay thai nas diferentes academias existentes nas cidades e
bairros, que por sua vez estão inseridas em federações e confederações de Muay thai,
recebendo orientações dessas quanto às regras de combate, disciplina, ética,
organizações das lutas e graduações dos aprendizes. Contudo, por trás da
prática desse esporte há também interesses de ganhos e de projeção social, por
parte de professores, mestres e competidores e diferenças entre as federações. Além das divergências federativas, a
inobservância de regras básicas de segurança pode levar ao ringue pessoas
despreparadas e mal orientadas, com resultados desastrosos. Esse tipo de
atitude por parte de organizadores de eventos e professores tem sido alvo de
severas críticas e até objeto de investigação criminal pelo DEIC e Ministério
Público Estadual, após a tragédia ocorrida com a lutadora iniciante Maria Luiza
Mello Ramos, que, depois de uma luta, sem capacete, acabou sofrendo traumatismo
craniano e se encontra em estado vegetativo. A lutadora, com apenas três meses
de treino, enfrentou uma adversária faixa preta em Taekwondo.
Veja uma luta feminina:
Riscos
do esporte:
Mesmo tendo conhecimento do incidente
ocorrido com Maria Luiza, as garotas não se assustam, continuam praticando o
esporte e participando de campeonatos. No entanto, Wadson dos Santos,
presidente da Federação da Bahia, disse que as artes marciais já responderam
por 20% das cirurgias de joelho e que os lutadores de Muay thai lesionam-se
todos os dias, porque não há a devida instrução: “O Muay thai é muito
contundente, uma luta muito dura, por conta do contato de canelas joelhos,
tornozelos, então muitos instrutores são irresponsáveis por colocar os atletas
em contato despreparados”. Afirmou ainda Wadson, ao jornal Agora, que outro fator
é a falha do atleta achar que pode treinar sozinho. Muitos se acham
autodidatas, não ouvem o instrutor e acabam se machucando..
Lesões
mais freqüentes:
Na cabeça: laceração, contusão, epistaxe,
hematoma, fratura
Fratura por estresse no osso cortical
(excesso de treinamento, 5 a 6 horas)
No ombro: estiramento, luxação;
Contusões: (punho, joelho, tíbia,
ísquios, adutores abdutores)
Punho: estiramento, fratura
Avulsão patelar
Tornozelo: entorse, fratura
No abdome: lesão renal, hepática
Coluna: lombalgia
Lesões musculares
Mão: lesão ligamentar, fraturas
Índice:
Cabeça: 2,3 a 42%
Iniciante: 2,3, amador, 3,1,
profissional 42,5%
Tronco: 1,5 a 5,9%
iniciante 15,9, amador 31,
profissional 42,5%
Membro superior: 2,7 a 6,8%
Iniciante 6,8, amador 2,7,
profissional 2,7%
Membro inferior: 53,5 a 75%.
Iniciante 75, amador 64,1,
profissional 42,5%
(fonte: Dr Fabio Romualdo de Oliveira,
especialista em Medicina do Esporte).
Benefícios
segundo a opinião de professores, mestres e atletas.
O mestre Rui Corrêa, 49 anos, do
Centro de Treinamento Naja Team, graduado por Luís Alves, da Federação
brasileira de Muay thai tradicional, diz que em sua academia tem seis mulheres,
na faixa de 17 a 28 anos. Todas treinam com proteção e ainda não participam de
lutas, por não estarem preparadas. Afirma que no caso de Maria Luísa houve
muitos erros. Com o pouco tempo de treino que possuía jamais deveria ter subido
no ringue e tampouco dispensar a proteção. Esse comportamento não deveria ter
sido aceito pela organização do evento e por seu técnico. Por outro lado, a
ambulância não poderia ter se recusado a levar a atleta ao hospital. O Muay
thai não é um esporte violento, com equipamento de proteção o risco é quase
zero, disse ele. “No futebol o atleta lesiona-se muito mais”. Contou que já
organizou eventos de luta e em todos requisitou ambulância e equipe de socorro,
mas que não foi preciso usar. “Mas sempre deve estar à disposição. E se houver
ferido, o evento deve parar. A ambulância leva-o ao hospital e volta. Só depois
o evento é retomado.” Rui salienta as vantagens da prática do esporte:
“O Muay thai é um esporte que traz benefícios como condicionamento
físico, equilíbrio, flexibilidade, coordenação motora, enrijecimento muscular e
aumento da capacidade respiratória”.
(Rui Corrêa)
Doriva Modelski Jr., 35 anos, treina
desde 14 anos. É professor de Muay thai da equipe Thai Figthers, há 06 anos.
Ministra aulas na Academia Cultura Fitness. Para ele, todo interessado em
praticar a modalidade deve buscar o histórico do profissional, procurando
investigar a formação, cursos, alunos que treinou. Entende que o histórico é a
única fonte segura. O risco da prática é igual a qualquer esporte de contato,
mas com organização, disciplina, respeito, pode ser praticado por qualquer
pessoa. Os benefícios são todos que uma atividade física regular proporciona. A
luta trabalha autocontrole, autoestima,respeito ao próximo, disciplina e
alimentação equilibrada. “O único risco que tem uma pessoa que fica na
cama é cair dela, só que o mundo lá fora é bem mais emocionante” “Todos os esportes têm riscos, é preciso
procurar alguém capacitado, que proporcione todas as medidas de segurança, a
fim de tornar a prática segura”
(Doriva)
(Mestre Jair Oliveira - foto do site)
Entrevistado por Lenira Pereira:
O Muay thai é um esporte de risco?
R: No Muay thai, como toda atividade física existe riscos, como lesões musculares,
contusões e abalos emocionais.
Na tua opinião, como diminuir esses riscos?
R:
estes riscos são controláveis à medida que existem regras e regulamentos para
pratica esportiva, desde seu treinamento, onde o atleta deve treinar com materiais
bons e seguros, evitar treinar com pessoas muito acima de sua categoria, pois
golpes com força excessiva podem machucar a médio prazo com lesões e até a
execução de uma competição onde atleta deve estar apto e preparado, tanto
fisicamente como mentalmente para isso. Assim tendo menor chance de se machucar
em todos os sentidos citados. Se o atleta tiver esses cuidados, e for orientado, os riscos se tornam mínimos, por isso a importância de profissionais
qualificados, como professores e treinadores com noções em preparação física e
de combate.
O
que é mais importante, procurar academias credenciadas à Federação ou buscar
mestres e professores já conhecidos pelas credenciais?
R: A
busca e inicio de qualquer atividade física deve seguir critérios bem simples,
como escolha de boa estrutura física, local adequado para treinamento da
atividade física proposta, em seguida verificar se o profissional está apto a exercer a
função juridicamente e, o mais importante averiguar, se o profissional sabe realmente o que
está fazendo, pois estará lidando com corpo e mente de jovens, crianças e
adultos,onde cada um tem um objetivo e cada praticante tem de ser trabalhado de uma
maneira diferente. O que acontece muito é que o profissional trabalha todos da
mesma maneira. Dessa forma, com certeza, terá problemas, pois a individualidade de cada um e
os limites devem ser respeitados. Ser técnico ou professor requer muito mais do
que ter sido um bom atleta ou saber lutar, deve se ter conhecimentos na área
física, motora, disciplinar e humana. Isso se dá com a busca por conhecimento
desde faculdade, seminários e toda forma que houver de busca, com pessoas
qualificadas nesses segmentos, para depois incluir ao treinamento.
Em termos de
Federações e Entidades estas servem para regulamentar a atividade, as quais se
tornaram, hoje em dia mais uma empresa em busca de fundos do que uma referência
de qualidade. Então, não podemos nos basear por estar filiado ou não a
qualquer Entidade e sim se o profissional segue à risca os critérios acima,
certamente todo profissional deve ter sua certificação expedida por alguma Entidade jurídica de sua confiança e seguir à risca os critérios de avaliação
de seus alunos, porque mais importante do que saber socos e chutes é a
maturidade do trabalho.Isso é que vai fazer a diferença na graduação do mesmo.
Cuidado
de Enfermagem nos campeonatos
Ivete, Técnica de Enfermagem, que se
encontrava à disposição do Ultimate Fight 4 Pro, de Flores da Cunha, disse que
trabalha há um ano nesse tipo de evento. Ficam à disposição ela e o motorista
da ambulância, para atender quaisquer incidentes. No caso de ocorrer, faz o
primeiro atendimento, verificando sinais vitais e necessidade de encaminhar ao
hospital, onde já existe uma equipe preparada para receber o atleta. Para
Ivete, a prática do esporte não é violenta ou arriscada. Agressão existe quando
as regras não são seguidas. Declarou que nesse evento atendeu somente um caso
de corte superficial na testa e observou a “saturação” de um atleta que tinha
quebrado a costela em outro campeonato.
O
que pensam as mulheres que lutam:
Thamires Machado de Andrade, natural
de Porto Alegre, filha de Shirlei Machado Pereira e Daniel Andrade, 21 anos,
atendente de cafeteria, solteira, formada no ensino médio, moradora na Zona Sul,
treina Muay thai pela equipe Thai Fighters, do professor Doriva Modelski, na
Academia Cultura Fitness, há dois anos e quatro meses, de 05 a 06 horas por
semana. Participou de oito lutas e ganhou todas. Duas por nocaute técnico e
seis por pontos. Pratica musculação, para fortalecer a musculatura dos membros
superiores, inferiores e abdome. Tem a dieta controlada pela nutricionista
Rosana Ferreira que a orienta desde 2014. Conta que chegou a perder 12 kg, até
agora. Nunca havia treinado outro esporte. Afirmou que usa os equipamentos de segurança
(capacete, protetor de tórax, luvas e caneleiras), porque ainda não é
considerada profissional, quando deixar a categoria amadora não será permitido
usar todos esses equipamentos. “Mesmo
assim, sempre sobram alguns hematomas nas pernas, devido aos chutes das
adversárias”.
Quanto às lutas de que participa, são organizadas por categorias,
peso e tempo de treino. Optou pelo Muay Thai, porque tinha um amigo que
treinava e queria praticar um esporte para emagrecer. Já brincava de luta com
as amigas. Começou a treinar e se apaixonou. Disse que o esporte lhe diminuiu a
ansiedade, irritabilidade, aumentou os reflexos, a disposição para o dia-a-dia.
Tornou-a menos agressiva. Fisicamente, com a musculatura mais forte. Não
pretende ficar apenas no Muay Thai. Está se preparando para ingressar no MMA
(mixed martial arts). Quanto aos riscos inerentes à pratica, argumentou que é
preciso usar os equipamentos de proteção para evitá-los e durante os treinos
dialogar com os colegas, quando entender que os movimentos estão muito fortes
ou agressivos. Nos campeonatos, manter a ambulância e equipe de socorro no
local e disponível para qualquer incidente.
Thamires venceu mais uma luta, na categoria
amador, no Ultimate Fight Pro 4 (campeonato de muay thai), de Flores da Cunha,
organizado por Jair Oliveira da Liga Gat (Grupo Avançado de Treinamento). O evento
realizou-se no dia 11 de abril de 2015, no Salão Paroquial da Igreja Nossa
Senhora de Lourdes e parte da arrecadação foi destinada a Maria Luiza Mello
Ramos.
Janice Wagner, também participante do
evento, treina muay thai há oito meses. Optou por esse esporte por ser “bom e
respeitoso, queimar caloria e proporcionar definição do corpo.
Afirma que o risco é praticamente zero, porque nos treinos utilizam o equipamento
recomendado pela federação. O risco seria mais para o nível profissional,
quando não são usados os equipamentos. Janice é aluna da Equipe Sam Marino, de
Gramado, que possui dez moças treinando. Lutou pela primeira vez e sagrou-se
campeã.
Ingrid Straccione Gomes, 14 anos,
treina há nove meses no Clube da Luta, onde há dez mulheres. Disse que começou
a treinar com nove anos e depois parou, voltando aos treze. Afirma que com esse
esporte emagreceu, adquiriu mais preparo físico e musculatura mais firme.
Elisa Sena dos Santos, do Clube da
luta de Viamão, treina há 02 anos. É filiada à Federação Gaúcha de Muay thai
tradicional. O esporte lhe proporcionou emagrecer 40kg, deu mais confiança, controle de medo e
ansiedade. “Com preparo e equipamento de proteção não existe risco”, disse.
Como
são as regras para ingressar nos campeonatos:
As taxas de inscrições aos atletas
variam entre 40 e 50 reais e as fichas de inscrição podem ser mandadas por
e-mail. As lutas são casadas. O traje exigido é calção de Muay Thai. Os atletas
são divididos em categorias de peso: 50,55,60, 65,70,75,80,85,90,95 e acima de
95 quilograma. As categorias de lutadores seguem as regras da Federação Gaúcha
de Muay Thai. Existe a categoria de lutadores adultos e na classe A, lutam os
atletas que têm no mínimo dez lutas. Lutam três rounds, de 03 minutos, com
luvas. Na classe B, podem inscrever-se quem já lutou de 07 a 09 lutas, para
disputar três rounds, em 02 minutos. Para essa classe é necessário usar luvas e
capacete. Na classe C podem inscrever-se atletas que tenham participado de 04 a
06 lutas, para lutar 03 rounds de 01 minuto e trinta, com luvas, capacete e
caneleira. Na classe D, podem se inscrever atletas que nunca tenham lutado ou
até três lutas. O tempo que terá de permanecer no ringue será de 01 minuto, com
luvas, capacete e caneleira.
Na categoria infantil lutam os atletas
na faixa de 12 a 13 anos e só podem lutar 02 rounds de 01 minuto, com luvas,
capacete, caneleira e protetor de tórax. Depois vem a classe juvenil, de 14 a
quinze anos, a qual pode lutar 03 rounds
de 01 minuto, com luvas caneleira e capacete. Às categorias estreantes no
ringue, amador e semi-profissional, é obrigatório o uso de luvas, caneleira,
capacete, bucal (protetor de boca) e coquilha (protetor de genitais).
As
regras de combate:
Na parte de socos. Todos os golpes são
permitidos, exceto aplicados na nuca.
Chutes: Não podem ser aplicados nos
genitais e coluna.
Joelhadas: Não podem atingir a cabeça.
Cotoveladas: todos os tipos, exceto na
nuca.
Clinches: Podem ser usados, mas até 05
segundos.
Critérios
de decisão:
Os critérios de decisão avaliam:
-Domínio da área de combate;
-Agressividade;
-Eficácia dos golpes;
-Condicionamento físico durante o
combate;
-Penalizações.
Premiação: Troféus, medalhas de
campeão e vice e nas categorias profissionais cinturão.
(Fonte – mestre Jair Oliveira, do GAT.
Organizador do UFP, de Flores da Cunha
Nos campeonatos, as equipes
apresentam-se com as camisetas das Academias a que pertencem e levam as
torcidas, geralmente familiares, membros das equipes e interessados no esporte,
que gritam e incentivam seu atleta, enquanto o técnico o orienta durante o
combate, posicionando-se próximo do ringue. O evento é fiscalizado pela
Federação, possui arbitragem e fiscais que anotam os resultados. A abertura de
inscrições aos campeonatos é divulgada previamente, para os atletas se
organizarem. Os ingressos ao público variam entre 20 e 30 reais e, às vezes,
mais um quilo de alimento, que é doado às Instituições. O campeonato Ultimate
Fight Pro 4, por exemplo, lotou o salão
paroquial de Flores da Cunha e trouxe atletas de fora do país. Havia torcidas
organizadas e no auge do embate o grito era: “Bota pra dormir”.
Dicas para evitar lesões:
Aquecimento:
Diogo Souza da Team
Nogueira diz que o aquecimento aumenta o fluxo do sangue nas extremidades do
corpo e na musculatura, preparando-o para atividades de maior intensidade.
2)
Alongamento: “Quanto mais alongamento, mais
se suporta os golpes e diminuem as lesões”.
4)
Músculos
resistentes: Segundo
Minotauro o corpo deve estar preparado com outros tipos de treinos para
prevenir lesões, como musculação. Para proteger os músculos que sustem a coluna:
agachamento com peso, abdominais,para blindar os joelhos, treinar quadríceps,
bíceps femoral, trabalhar os músculos do peito, costas e ombro.
5)
Treinos
insistentes: Para
evitar lesões o atleta não deve entrar na luta sem estar suficientemente
treinado. “Para fugir de estragos, deve-se treinar muito. É no treinamento que
você aprende a se defender e a sair dos golpes com eficiência”.
6)
Concentração: Segundo Diogo Souza, um praticante
desatento está mais exposto a machucar-se. “A parte psicológica conta muito,
quanto mais presente no combate o atleta estiver, mais o corpo consegue se
prevenir contra qualquer tipo de ataque”
7) Escutar o corpo: De acordo com Gregor Gracie, é
preciso perceber os sinais do organismo, para evitar lesões..
“Se você está
começando a treinar, vá devagar, não force. Se o corpo está cansado, descanse”.
(fonte:.minhavida.com.br).
Reportagem de Maria Lenira Souza
Pereira.
Outras informações poderão ser encontradas em:
www.minhavida.com.br
exame.abril.com.br
muaythaimulher.com.br
muaythaimulher.wordpress